sábado, 15 de março de 2014

SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ —19 DE MARÇO

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO SOLENIDADE DE SÃO JOSÉ —19 DE MARÇO 
GRANDEZA DE SÃO JOSÉ À LUZ DO EVANGELHO
Nestes breves versículos torna-se patente o quanto São José é pai legal de Nosso Senhor, pois o santo Patriarca exerceu de fato esse encargo, a ponto de, no Evangelho de São Lucas, Maria mencionar José como sendo pai de Jesus, ao encontrá-Lo no Templo: “Eis que teu pai e Eu andávamos à tua procura, cheios de aflição” (Lc 2, 48).
Com efeito, o matrimônio realizado entre Nossa Senhora e São José foi inteiramente válido, segundo a Lei. E como todo casamento, por ser um contrato bilateral, dependia da anuência de ambos. E também uma verdade admitida por todos os Padres e teólogos que tanto Maria como José estiveram vinculados a um voto de virgindade. Decerto, Ela lhe terá comunicado esse propósito que fizera e ele o aceitou, pois também terá feito o mesmo voto, pelo que os dois concordaram em mantê-lo dentro do matrimônio. Portanto, Ela foi Virgem com o conhecimento e o consentimento de seu esposo, ficando ligados de livre e espontânea vontade a esse compromisso.
Como sabemos, segundo a Lei antiga o varão tornava-se dono de sua esposa, de modo que “a mulher israelita costumava chamar seu marido com os termos ba’al — ‘amo’ e ‘adôn — ‘senhor’, como faziam os escravos com seu dono e o súdito com seu rei”.8 A partir do momento em que ambos se uniram, SãoJosé tornou-se senhor de Maria e, em consequência, senhor de todo o fruto d’Ela. São Francisco de Sales explica esta situação por meio de uma bela alegoria: “Se uma pomba [...] leva em seu bico uma tâmara e a deixa cair num jardim, não diríamos que a palmeira que vier a nascer pertence àquele de quem é o jardim? Ora, se isto é assim, quem poderá duvidar que o Espírito Santo, tendo deixado cair essa divina tâmara, como uma divina pomba, no jardim encerrado e fechado da Santíssima Virgem (jardim selado e rodeado por todos os lados pelas cercas do santo voto de virgindade e castidade toda imaculada), a qual pertencia ao glorioso São José, como a mulher ou esposa pertence ao esposo, quem duvidará, digo, ou quem poderá dizer que essa divina palmeira, cujos frutos alimentam para a imortalidade, não pertence ao grande São José?”.9
Para a Encarnação era indispensável Nossa Senhora conceber dentro das aparências de um casamento humano, a fim de não criar uma situação incompreensível, que dificultasse a missão do Messias. Logo, a gestação de Jesus no seio de Maria Santíssima tinha em José o selo da legalidade, de forma a garantir que o Menino viesse ao mundo em condições de normalidade familiar, a fim de operar a Redenção da humanidade.
O “fiat” de São José
Esta prerrogativa de São José, da paternidade legal do Menino, brilha ainda com maior fulgor quando constatamos que, sendo seu o fruto de Maria, ele poderia ter recusado o convite do Anjo no sonho, mas não o fez. Desse modo, paralelamente ao “Fiat!” de Nossa Senhora em resposta a São Gabriel no momento da Anunciação, também ele pronunciou outro fiat sublime, ao aceitar, pela fé, ser pai adotivo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Uma vez que ele consentiu em manter o estado de virgindade e aceitou o mistério da concepção do Menino Jesus em Maria, São José deve ser considerado, ademais, pai virginal do Redentor, pois teve uma grande ligação com a Encarnação, embora extrínseca. Ele foi necessário para que houvesse a união hipostática, e foi vontade de Deus que também participasse desta ordem hipostática, de forma extrínseca, moral e mediata.10
Um esposo à altura de Nossa Senhora
Feitas essas considerações, lembremo-nos de outro princípio enunciado por São Tomás de Aquino: “Aqueles que foram eleitos por Deus para alguma coisa, Ele os prepara e dispõe de modo que sejam idôneos para desempenhar a missão”.11 De fato, desde toda a eternidade, São José esteve na mente de Deus com a vocação de ser chefe da Sagrada Família e para tal foi criado. Como diz a Oração do Dia da Santa Missa desta Solenidade, a ele foram confiadas “as primIcias da Igreja”.12 E teve sob sua custódia estas primIcias, que foram o Menino Jesus e Nossa Senhora. Devemos concluir, então, que São José recebeu graças específicas para estar à altura de sua missão de esposo e guardião de Maria Santíssima, bem como de pai legal e atribuído de Jesus Cristo, ou seja, pai de Deus.
Modelo de humildade
Entretanto, o que transparece acerca da personalidade de São José nos Evangelhos? Não consta que fosse falador, espalhafatoso ou demasiado comunicativo. Pelo contrário, à semelhança de Maria, José destacava-se pela seriedade, recato e despretensão. Certamente seguia uma rotina com horas marcadas para todos os seus deveres e uma aplicação ao trabalho notável pela constância.
Eis um exemplo do quanto Deus ama essas virtudes e escolhe para as grandes missões os que as praticam. Para conviver com Jesus e proteger todo o ambiente no qual Ele habitaria, a fim de realizar a mais alta obra de toda a História da criação, a Providência preferiu dois, uma dama e um varão, que fossem recolhidos, apagados e humildes...
São José, patrono da confiança e da boa morte
São José é também um impressionante modelo da virtude da confiança. Ele aceitou todas as incertezas que sua missão acarretava — como constatamos, por exemplo, no episódio da fuga para o Egito (cf. Mt 2, 14) —, pois é de se supor que, com relação ao atendimento das necessidades materiais e concretas da vida, a Providência não interviesse de forma direta, e deixasse essa responsabilidade aos cuidados dele. Portanto, era ele que tinha de garantir o sustento da Sagrada Família. A ele se aplica, de maneira especial, a belíssima frase empregada mais tarde por Nosso Senhor para indicar a razão do prêmio a ser dado aos justos, no fim do mundo: “tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes” (Mt 25, 35-36).
Do mesmo modo que Nossa Senhora recebeu a revelação dos padecimentos que o Salvador deveria sofrer na Terra para operar a Redenção, sem dúvida, também São José teve noção do que ia acontecer e assumiu todos os dramas e dores de Jesus e de Maria. Inflamado de amor por Jesus, seu grande desejo era de continuar neste mundo para proteger sua esposa virginal em todas as circunstâncias. Deus, porém, resolveu levá-lo antes de Jesus iniciar sua vida pública. Quiçá porque ele não toleraria presenciar todas as perseguições e tormentos da Paixão, e, enquanto varão, teria de manifestar seu desacordo com o plano da morte de Cristo e tomar a defesa d’Ele. Faria isso com tal ímpeto de zelo que talvez impossibilitasse que a Paixão chegasse a seu termo.

Ao abandonar esta vida, São José morreu nos braços de seu Divino Filho. Seus olhos apagaram-se para a contemplação de Deus-Homem no tempo e, abrindo-se para a eternidade, viram Jesus sorridente, que o deixou no Limbo dos Justos, para ser colhido no dia em que Ele descerrasse as portas do Céu.

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