Consideremos, por
exemplo, a tremenda provação que sobre ele se abateu, logo no início de seu
matrimônio com Maria Santíssima.
No Antigo Testamento, a
maior ventura que podia almejar um judeu era a de ser contado entre os ancestrais
do Messias. Em vista disso, a imensa maioria do povo eleito procurava contrair
matrimônio e ter filhos, não sendo raro considerar-se a esterilidade como um
sinal de desprezo e opróbrio.
Mas, São José, movido
pela graça, não quisera se casar, a fim de conservar a virgindade. Levava ele
sua tranqüila vida de homem casto e puro, quando, inesperadamente, recebe uma
convocação: todos os descendentes diretos de David deviam comparecer diante de
uma Virgem chamada Maria, a fim de se poder escolher um marido para Ela.
Obediente, São José se
apresenta ao lado de seus parentes, confiando na voz da graça que o fizera
abraçar a virgindade. No seu íntimo, alimentava a certeza de que o escolhido
seria outro.
Como naquele tempo se
viajava com o apoio de um bordão, todos se apresentaram com o seu. O sacerdote
encarregado da cerimônia determinou: aquele em cujo bastão desabrochar uma
flor, este será o eleito para se unir a Maria.
São José olha para seu
cajado... e nele vê aparecer uma flor! Evanesceram de súbito todos os seus
anseios de virgindade. Como será agora? Ele confia. É um milagre que o obriga a
se casar com Maria. Entretanto, no fundo de sua alma, quer continuar virgem!
Sereno e corajoso,
aceita a disposição divina.
Entra em confabulação
com a jovem e descobre que Ela também fizera voto de virgindade. A dificuldade
parecia estar resolvida: ambos se manteriam intactos. Que felicidade! Seus
anelos permaneciam vivos. Com o passar dos dias, ele percebe a incomparável
riqueza de alma dessa Virgem que foi posta no seu lar. Pensa: “Protegê-La-ei
magnificamente. Aqui estou para defendê-La no esplendor de sua personalidade
contra toda espécie de ataques.”
Em determinado momento,
porém, o impensável acontece: ele nota que a Virgem está à espera de um Filho.
No espírito de São José se estabelece a perplexidade.
Ele não podia entender o
que se passava, depois de tantos milagres... O florescimento do bordão, o
encanto com que os dois se comunicaram o recíproco desejo da perpétua
virgindade, a alegria de alma que então sentiram: “É claro! Deus nos colocou no
mesmo caminho. Ele prometeu e está cumprindo a promessa!”
Mas, agora, o
incompreensível...
São José passa por uma
inenarrável provação, e Nossa Senhora também, uma vez que Ela percebia em toda
a medida o sofrimento de seu esposo. Angústia tanto mais intensa quanto ele
sabia ser impossível uma traição da parte d’Aquela Virgem incomparável. Ora,
pela lei judaica, se uma esposa prevaricasse, o marido tinha a obrigação de
expulsá-la do seu lar.
Mas São José tinha a
certeza de que Maria não havia cometido nenhum pecado.
Não querendo tomar uma
atitude injusta em relação a essa Virgem tão santa, e não sendo capaz de
encobrir aquela situação irremediável, São José resolve deixar despercebido a
casa de Nazaré. Antes da longa jornada que o esperava, resolveu descansar para
reparar suas forças. Na madrugada seguinte ele partiria, levando simplesmente
seu bordão, um pouco de comida e o fardo de uma grande incógnita, mais pesada
que o Monte Evereste: Como se passou isto? Meu Deus, meu Deus... eu confio na
vossa promessa!
Apesar da aflição, tinha
a alma tão confiante e tão serena que adormeceu. E, ao dormir, sonhou. No sonho
teve esta recompensa: Deus lhe comunicou que aquela Criança formada no claustro
virginal de Maria era o Verbo Encarnado, Filho do Divino Espírito Santo.
Quando São José
despertou, a paz reinava na sua alma. E Nossa Senhora, ao ver o semblante
luminoso de seu esposo, soube que a provação dele havia cessado.
Porque foi um herói da
confiança, São José recebeu a maior e mais extraordinária missão que um homem
teve na Terra. Ele era o consorte da Virgem Mãe, d’Aquela que daria à luz o
Homem-Deus e Redentor do mundo. Nisto florescia a promessa de virgindade que
lhe fora feita. Tudo se cumprira além do inimaginável.
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