sábado, 31 de março de 2012

Espírito de respeito às regras


“Por ser da família e descendência de Davi, São José subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, até a cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrarse com Maria, sua esposa, que estava grávida”.

Sendo de estirpe real, José deveria apresentar-se com sua esposa na cidade de seus ancestrais. Era necessário caminhar uns 150 quilômetros, distância que separava Nazaré de Belém por aquelas estradas.

Não haviam ainda os romanos posto em prática toda a sua capacidade organizadora no tocante à rede de comunicação de seu Império. É verdade que já estavam construindo, na região de Roma, ótimas estradas, levantavam pontes e viadutos sólidos, mas os caminhos da Palestina não haviam sido endireitados e pavimentados até então.

Eram vias ricas de aspectos pitorescos, mas quão tortuosas, esburacadas e arriscadas! .oi por este cenário agreste que se aventuraram José e Maria durante alguns dias. .elizmente, por estarem num período de recenseamento, por todo percurso encontravam uma multidão de pessoas, diminuindo de certo modo os perigos. Apesar disso não deixava de ser um deslocamento penoso.

Não consta que José e Maria hajam se queixado de algo. Submeteram-se docilmente às determinações, por serem fiéis ao princípio da autoridade, criado por Deus e posto em prática na legislação. Não se tratava de uma ordem criminosa nem injusta; logo, devia ser obedecida. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

São José - A glória de ter sido recusado

Refiro-me ao fato de ele, ao procurar um abrigo para Nossa Senhora prestes a dar à luz o seu divino Filho, ver que lhes recusavam lugar nas hospedarias de Belém. São José, Príncipe da Casa de David, nobre da família real ao mesmo tempo deposta e no seu apogeu, pois dela ia nascer o esperado das nações, bate às portas e é rechaçado.

Despedem a quem representava algo que a mediocridade de alguns homens sempre rejeitou, ou seja, a distinção, a majestade, enfim porque simbolizava a grandeza e a sublimidade do próprio Verbo Encarnado que Maria Santíssima trazia consigo.

Foi esta a primeira glória de São José, sua especial bem-aventurança de ter sido recusado no momento mais augusto da História. Nesse sentido, prenunciava em sua pessoa a renúncia tão mais acerba que Nosso Senhor Jesus Cristo sofreria mais tarde, culminando na crucifixão e morte no Calvário.

terça-feira, 27 de março de 2012

São José e o Deus Encarnado

Em São José, de tal maneira brilha a chama da caridade, um tão intenso amor de Deus, uma vida interior tão admirável, que ele se tornou objeto das complacências do próprio Deus Encarnado.

domingo, 25 de março de 2012

Glórias terrenas de São José

A primeira das glórias terrenas de São José é a do homem recusado às portas das estalagens de Belém; a de se refugiar num lugar ermo e ali ver nascer o Filho de Deus; a de ser um homem apagado, o “carpinteiro”, rejeitado por amor à justiça. A glória, exatamente, daquele que, enquanto comovedora prefigura, tomou sobre si as humilhações, a ignomínia, todo o peso do opróbrio que um dia recairiam sobre o divino Redentor.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Humildade de São José


Depois de Maria Santíssima, São José foi o mais elevado expoente de virtudes da humanidade. Brilha nele a chama da caridade. Um intenso amor de Deus, uma espiritualidade e uma vida interior admiráveis fazem de sua alma objeto da complacência da Santíssima Trindade.

Este homem humilde foi chamado a participar de acontecimentos dos quais decorreram os mais notáveis fatos da história do mundo. Pela sua admirável correspondência à graça, São José colaborou de modo eminente no plano divino da Redenção e, desse modo, é merecedor de grande parcela da glória que, legitimamente, cabe ao Divino Salvador, pela imensidade de benefícios com que nos cumulou.

quinta-feira, 22 de março de 2012

São José - fuga para o Egito

Em geral, as pinturas e esculturas que representam a Fuga para o Egito mostram Nossa Senhora montada num burrico, trazendo aos braços, com uma imensidade de carinho, cuidado e respeito, o Menino Jesus. À frente ou ao lado d’Eles, caminha São José. Sendo o membro mais forte da Sagrada Família, competem-lhe, explicavelmente, os maiores incômodos e cansaços da viagem. Fadiga que o castíssimo esposo de Maria aceitava com sublime disposição de alma, pois sabia que devia cercar Nossa Senhora de todo o conforto possível: era Ela quem levava o adorável pequeno peso, aquele corpo divino que um dia seria suspenso nos braços implacáveis da Cruz..

terça-feira, 20 de março de 2012

Casa de Nazaré

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se faz homem, para resgatar o pecado de Adão e Eva. Nasce de uma Virgem, criatura perfeita que, por sua insuperável correspondência à graça, compensa o orgulho de Eva. E escolhe como pai adotivo um santo varão, José. Na Sagrada Família realiza-se o plano primeiro de amor de Deus, numa inimaginável intimidade entre Criador e criaturas.
De fato, dentro das quatro paredes da pequena casa de Nazaré, vivia-se numa atmosfera mais elevada que a do Éden, pois lá estavam presentes Deus feito homem e Maria Santíssima, o Paraíso do Novo Adão (cf. São Luís Maria Grignion de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 18). Aí viveu Nosso Senhor trinta anos em sublime convívio com Nossa Senhora e São José, santificando-os. E com isso deu mais glória a Deus do que se tivesse, nesse período, percorrido a terra inteira, operando os maiores milagres

sábado, 17 de março de 2012

São José e Santa Teresa

O exemplo de Santa Teresa

Onde encontrar algum ponto de afinidade com tão grande Santo, para confiarmos em sua poderosa intercessão?

Uma de suas maiores devotas, Santa Teresa de Jesus, dizia querer “convencer todas as pessoas a serem devotas deste glorioso Santo, pela comprovação que fiz dos dons que ele alcança de Deus”.

E acrescentava: “Tomei como protetor e senhor o glorioso São José. Não me lembro, até agora, de lhe ter pedido alguma coisa e não ser atendida. Fico espantada com os favores que recebi de Deus por intercessão deste bem-aventurado Santo e dos perigos dos quais me livrou, tanto de corpo como de alma.

“A outros Santos, parece que lhes deu o Senhor poder para socorrer em um só tipo de necessidade. Este glorioso Santo, tenho comprovado que socorre em todas as necessidades. Deus quer dar a entender que, assim como foi submisso a São José aqui na Terra, também no Céu Jesus faz tudo quanto ele lhe pede.”

sexta-feira, 16 de março de 2012

São José - Constante contemplador de Jesus e de Maria


Sim, leitor, como imagina você a figura majestosa e paternal de São José?

Segundo São Tomás de Aquino, todas as criaturas existentes no universo poderiam ter sido criadas por Deus de modo mais perfeito, exceto três: Jesus Cristo, a Virgem Maria e a visão beatífica. Jesus, sendo Deus, não podia ter a mínima imperfeição. Para ser sua Mãe, é natural que Ele escolhesse a criatura humana mais perfeita possível. Deste modo, se somarmos as perfeições de todos os Anjos e de todos os Santos, teremos apenas uma ideia pálida das riquezas sobrenaturais que adornam a alma de Maria.

Mas Deus não iria escolher para esposo de sua Mãe Virginal, para seu pai adotivo, alguém que não estivesse à altura de tal missão. Tinha de ser um homem proporcionado a essa esposa, pelo seu amor de Deus, pela sua justiça, pela sua pureza, por sua sabedoria, por todas as qualidades. Esse homem é São José.

Ambos eram da Casa de David. Talvez até tivessem certa semelhança física, entre si. E não é inverossímil imaginar São José com alguns traços fisionômicos do Rei Profeta, seu glorioso antepassado, do qual diz a Sagrada Escritura: “louro, de belos olhos e mui formosa aparência (...) valente e forte, fala bem, tem um belo rosto, e o Senhor está com ele” (I Sam 16, 12 e 18).

Sob o ponto de vista sobrenatural, São José alcançou o mais alto píncaro da santidade e não pode ter deixado de praticar a devoção a Nossa Senhora no grau mais perfeito, e participar das virtudes altíssimas de sua esposa virginal. Sua vida foi uma constante contemplação de Maria e de Jesus. Por isso ele pode ser considerado o padroeiro e modelo das almas contemplativas e dos devotos de Maria.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A devoção dos Sete Domingos em honra a São josé


Uma das devoções a São José mais divulgadas é a dos Sete Domingos em honra de suas sete dores e sete alegrias, que transcrevemos nas páginas seguintes. Por meio dela, leitor, não só você obterá graças por intercessão de São José, como também, meditando nos sete momentos-auge de sua vida, ele lhe abrirá os segredos de sua alma virginal, dando a conhecer algo de sua fisionomia e de suas grandes virtudes. A primeira delas, seu amor ardentíssimo a Nossa Senhora, pois são José é o primeiro devoto da Virgem Maria.


Sete Domingos em honra de São José ou Coroa das Sete Dores e dos Sete Gozos de São José

ORAÇÃO PREPARATÓRIA

Deus e Senhor meu, em Quem creio e espero e a Quem amo sobre todas as coisas, entre a multidão de meus pecados me confundo, e com sincero arrependimento peço-Vos perdão e clemência. Pesa-me de Vos ter ofendido, e proponho, com a vossa Divina Graça, nunca mais tornar a Vos ofender. Tende piedade de mim, Senhor. Escutai os meus rogos e não permitais que eu me separe de Vós. E vós, bondoso São José, intercedei por mim para que Jesus perdoe os meus pecados e derrame sobre minha alma os tesouros de sua Santa Graça para que eu possa fazer, com fruto, os Sete Domingos, em vossa honra e bem de minha alma. Lembrai-vos, meu doce protetor, que nenhum dos que têm implorado vosso auxílio tem ficado sem consolo. Animado desta confiança, venho à vossa presença neste dia, suplicando-vos as graças de que necessito e que espero conseguir de Jesus e Maria. Amém.

ORAÇÕES PARA CADA DOMINGO

I Domingo

Ó Esposo puríssimo de Maria Santíssima, glorioso São José, assim como foi grande a amargura de vosso coração na perplexidade de abandonardes a vossa castíssima Esposa, assim foi indizível a vossa alegria quando pelo Anjo vos foi revelado o soberano mistério da Encarnação. Por esta Dor e por este Gozo, vos pedimos a graça de consolardes agora e nas extremas dores, nossa alma, com a alegria de uma vida justa e de uma santa morte semelhante à vossa, assistidos por Jesus e por Maria.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José, rogai por nós.

II Domingo

Ó felicíssimo Patriarca, glorioso São José, que fostes escolhido como Pai adotivo do Verbo Humanado, a Dor que sentistes ao ver nascer em tanta pobreza o Deus Menino, se vos mudou em júbilo celeste ao ouvirdes a angélica harmonia e ao contemplardes a glória daquela brilhantíssima noite. Por esta Dor e por este Gozo, vos suplicamos a graça de nos alcançardes que, depois da jornada desta vida, passemos a ouvir os angélicos louvores e a gozar os resplendores da glória celeste.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José, sustentador do Filho de Deus, rogai por nós.

III Domingo

Ó obedientíssimo das divinas Leis, glorioso São José, o sangue preciosíssimo que na Circuncisão derramou o Redentor-Menino vos trespassou o coração, mas o nome de Jesus vo-lo reanimou, enchendo-o de contentamento. Por esta Dor e por este Gozo, alcançai-nos viver sem pecado, a fim de expirar cheios de júbilo, com o nome de Jesus no coração e nos lábios.
Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José obedientíssimo, rogai por nós.

IV Domingo

Ó fidelíssimo Santo, glorioso São José, que também tivestes parte nos mistérios de nossa Redenção, se a profecia de Simeão a respeito do que Jesus e Maria teriam de padecer vos causou mortal angústia, também vos encheu de sumo Gozo pela salvação e gloriosa Ressurreição que, como igualmente predisse, teria de resultar para inumeráveis almas. Por esta Dor e por este Gozo, obtende-nos que sejamos do número daqueles que, pelos méritos de Jesus e pela intercessão da Santíssima Virgem sua Mãe, hão de ressuscitar gloriosamente.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José fidelíssimo, rogai por nós.


V Domingo

Ó vigilantíssimo custódio, íntimo familiar do Filho de Deus Encarnado, glorioso São José, quanto sofrestes para alimentar e servir o Filho do Altíssimo, particularmente na fuga com Ele para o Egito. Mas qual não foi também vosso Gozo por terdes sempre convosco o mesmo Deus e por verdes cair por terra os ídolos egípcios.

Por esta Dor e por este Gozo, alcançai-nos que, afastando para longe de nós o infernal tirano, especialmente com a fuga das ocasiões perigosas, sejam derrubados de nossos corações todos os ídolos dos afetos terrenos, e que, inteiramente dedicados ao serviço de Jesus e de Maria, para Eles somente vivamos e na alegria de seu amor expiremos.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José castíssimo, rogai por nós.

VI Domingo
Ó anjo da Terra, glorioso São José, que cheio de pasmo vistes o Rei do Céu submisso a vossos mandados, se a vossa consolação, ao reconduzi-Lo do Egito, foi turbada pelo temor de Arquelau, filho de Herodes, contudo, sossegado pelo Anjo, permanecestes alegre em Nazaré com Jesus e Maria.

Por esta Dor e por este Gozo, alcançai-nos a graça de desterrar do nosso coração todo temor nocivo, de gozar a paz de consciência, de viver seguros com Jesus e Maria, e também de morrer assistidos por Eles.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José, casto guarda da Virgem, rogai por nós.

VII Domingo
Ó exemplar de toda a santidade, glorioso São José, perdestes sem culpa o Menino Jesus, e para maior angústia houvestes de buscá-Lo por três dias, até que, com sumo júbilo, gozastes do que era a vossa vida, achando-O no Templo entre os doutores.

Por esta Dor e por este Gozo, vos suplicamos, com o coração nos lábios, que interponhais o vosso valimento para que nunca nos suceda perder a Jesus por culpa grave. Mas, se por desgraça O perdermos, com tão intensa dor O procuremos, que O achemos favorável, especialmente em nossa morte, para podermos glorificá-Lo no Céu e lá cantarmos eternamente suas divinas misericórdias.

Pai Nosso, Ave Maria e Glória. São José fortíssimo, rogai por nós.

ORAÇÃO FINAL

Ó Deus, que por vossa inefável providência Vos dignastes escolher o bemaventurado São José para Esposo de vossa Mãe Santíssima, concedei-nos, nós Vo-lo pedimos, que venerando-o aqui na Terra como protetor, mereçamos tê-lo no Céu como nosso intercessor. Vós que viveis e reinais por todos os séculos dos séculos. Amém.


segunda-feira, 12 de março de 2012

José, varão justo por excelência


A Teologia aprofundou de forma admirável, ao longo dos séculos, na divina missão de São José e descreveu com riqueza de detalhes as graças que Providência lhe concedera.


Os principais traços da vida do santo esposo da Virgem Maria chegaram até nós nos primeiros capítulos do primeiro e terceiro evangelhos 1.

Segundo vários autores, entre os quais São Justino 2, São José era originário de Belém, a cidade de Davi, seu antepassado, situada dez quilômetros ao sul de Jerusalém. Mais tarde, passou a morar em Nazaré, cidade na qual, em obediência à voz do anjo, estabeleceu-se novamente ao voltar do Egito, cumprindo-se assim o que de Jesus diziam os profetas: “Será chamado Nazareno” (Mt 2, 23).

Mateus (13, 55) e Marcos (6, 3) o designam como téktón, o que significa tanto carpinteiro quanto artesão ou edificador de pequenas casas.

Perfil moral do santo Patriarca
Poucos são, em conseqüência, os dados diretos que nos referem os Evangelhos sobre São José. No entanto, ao ter sido ele escolhido por Deus para esposo de Maria, a “cheia de graça”, e digno custódio do Verbo Encarnado, não podemos duvidar de ter sido ele provido de dons e virtudes extraordinários, que vão muito além do conciso relato de Marcos e Mateus.

Nesse sentido, Santo Alberto Magno o exalta dizendo: “Fez de seu coração e de seu corpo um templo ao Espírito Santo, no qual ofereceu a si mesmo a Deus e, em si mesmo, a mais perfeita castidade de corpo e alma, no mais aceitável e agradável sacrifício a Deus” 3.

E o Papa Leão XIII, numa encíclica dedicada a São José, mostra como seu matrimônio com a Santíssima Virgem o fazia partícipe da grandeza dEla.

José “é o esposo de Maria e pai legal de Jesus. Dessa fonte mana sua dignidade, sua santidade, sua glória. Certo é que a dignidade de Mãe de Deus chega tão alto que nada pode existir de mais sublime. Mas, uma vez que entre a Santíssima Virgem e José estreitou-se um laço conjugal, não há dúvida de que ele, mais do que qualquer outro, se aproximou daquela altíssima dignidade pela qual a Mãe de Deus supera de muito todas as criaturas. Já que o matrimônio é o máximo consórcio e amizade — ao qual está unida a comunhão de bens — segue-se que, se Deus deu José como esposo à Virgem, não o deu apenas como companheiro de vida, testemunho da virgindade e tutor da honestidade, mas também para que ele participasse, por meio do pacto conjugal, na excelsa grandeza dEla” 4.

O evangelho da Solenidade

A passagem mais significativa das Sagradas Escrituras a respeito do esposo de Maria foi escolhida pela Igreja como segunda leitura própria da solenidade de São José. Tomada do Evangelho de Mateus (1, 18-24), ao percorrê-la, sentimos o estilo claro, breve, exato, musical até, com que os autores sagrados narram as maravilhas da salvação.

Analisemos um a um esses seis poéticos versículos:

Eis como nasceu Jesus Cristo: Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, aconteceu que Ela concebeu por virtude do Espírito Santo.

O termo “desposada” merece uma explicação, que nos é dada pelo douto Pe. Ricciotti: “O matrimônio entre os judeus se realizava em duas etapas. O compromisso (em hebraico kiddushin ou erusin) não era uma mera promessa, como hoje, mas um contrato legal perfeito, ou seja, verdadeiro matrimonium ratum. Portanto, a mulher prometida em casamento era esposa em sentido pleno e podia receber o libelo de repúdio. E em caso de morte era verdadeira viúva. Cumprido este compromisso matrimonial, os prometidos-esposos ficavam nas respectivas famílias por certo tempo que era costumeiramente de um ano [...] Este tempo era empregado nos preparativos da nova casa e do mobiliário familiar” 5.

José, seu marido, que era um homem justo

A palavra “justo” tem aqui um valor muito grande. Santo Alberto Magno assim comenta: “São José foi varão perfeito, no referente à justiça, pela constância da sua fé; quanto à temperança, pela virtude de sua castidade; quanto à prudência, pela excelência de sua discrição; quanto à fortaleza, pela energia de sua ação. Assim, pois, encontramos nele as quatro virtudes cardeais em grau excelente” 6.

Consideremos mais adiante as virtudes de São José, dando continuação agora ao relato de Mateus.

José jamais duvidou da integridade de Maria

...e, não querendo difamá-La, resolveu deixá-La secretamente.

É importante salientar que dentro desta grande perplexidade jamais houve em São José dúvida alguma quanto à santidade de Maria. Esta santidade lhe era evidente, não só por ser notória para qualquer um, mas porque José fora dotado por Deus — uma vez que tinha sido escolhido para ser o pai adotivo de Jesus — com dons especiais para discernir todas as virtudes que adornavam a alma da Virgo Virginum.

O sensum fiedei nos leva, portanto, a concluir não ser possível que José tenha duvidado dEla. Ao encontro disso, vejamos também o que comentam a respeito desta passagem alguns grandes doutores.

Diz São Tomás que José conhecia a santidade de Maria, o que o fazia sentir-se demasiado pequeno: “José não quis abandonar Maria para tomar outra esposa, ou por alguma suspeita, mas porque temia, em sua humildade, viver unido a tanta santidade; por isso lhe foi dito ‘Não temas’ (Mt 1, 20)” 7.

Por sua vez, o doctor melifluus, São Bernardo, exclama, em uníssono com São Tomás: “Mas por que quereria ele deixá-la? Considerai sobre este ponto, não meu próprio pensamento, mas o dos Padres da Igreja. Se José quis abandonar Maria, o fez movido pelo mesmo sentimento que levou São Pedro dizer, quando procurava afastar o Senhor para longe de si: ‘Retirai-Vos de mim, porque sou um homem pecador’ (Lc 5, 8); e ao centurião, dissuadindo o Salvador de ir até sua morada, afirmar: ‘Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa’ (Mt 8, 8). Foi, pois, levado por esse pensamento que José também, julgando-se indigno e pecador, dizia a si mesmo que não devia viver por mais tempo na familiaridade de uma mulher tão perfeita e tão santa, cuja admirável grandeza de tal forma o ultrapassava e lhe inspirava pavor. Ele via com uma espécie de assombro que Ela estava grávida da presença de um Deus, e, não podendo penetrar esse mistério, tinha feito o propósito de deixá-La” 8.

O motivo do desejo de partir, portanto, não era uma dúvida sobre a integridade de Maria, mas, pelo contrário, o seu abismamento de veneração e de humildade perante a grandeza dEla!

Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, pois nEla o que é gerado é do Espírito Santo”.

Desvendado o mistério, tudo fica claro. É esta uma verdadeira “anunciação” a José, a qual se relaciona harmoniosamente com a Anunciação do anjo Gabriel a Maria 9.

O nome Jesus

Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo de seus pecados.

Era, de fato, atribuição do pai, na lei judaica, dar o nome ao filho. No evangelho, por exemplo, se relata também a perplexidade dos parentes de São João Batista ao saberem como queriam seus pais que ele fosse chamado. Zacarias, então, escreveu sobre uma tabuleta: “João é seu nome” (Lc 1, 63). Esse episódio deixa patente como, apesar da estranheza de muitos, pois ninguém na família se chamava assim, se aceitou a autoridade do pai nessa circunstância.

Nesse versículo, a voz do Senhor, por meio do anjo, se faz ouvir a José, comunicando-lhe que Deus o associa a este grande mistério: é ele quem deve nomear ao Salvador. De igual forma, Deus ratifica a legitimidade do pátrio poder de São José sobre Jesus, ou seja, sua condição de verdadeiro pai, como salienta o Papa João Paulo II, na sua já citada Exortação Apostólica:

Quando lhe deu o nome, José declarou a própria paternidade legal em relação a Jesus; e, pronunciando essenome, proclamou a missão deste menino, de ser o Salvador” 10.

Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, que se chamará Emanuel, que significa: Deus conosco.

Podemos considerar que o nome dAquele que veio a ser o Redentor do mundo tinha sido escolhido por Deus desde toda a eternidade, de acordo com a essência do Salvador. Afirma, com efeito, no mesmo documento o Papa João Paulo II: “Neste caso, trata-se de um Filho que — segundo a promessa divina — realizará plenamente o que esse nome significa: Jesus — Yehosua, que quer dizer ‘Deus salva’” 11. Pois, desde antigos tempos, o nome queria significar as propriedades ou qualidades de seu detentor.

Diz a este respeito São Tomás: “Os nomes devem corresponder às propriedades das coisas. [...] os nomes dos indivíduos são dados por alguma propriedade daquele a quem se dá o nome. [...] Mas os nomes que Deus impõe a alguns significam sempre algum dom gratuito que Deus lhes concede, como foi dito a Abraão: ‘Serás chamado Abraão, porque Eu te constituí pai de numerosas nações’ (Gn 17, 15); ou como foi dito a Pedro: ‘Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja’ (Mt 16, 18).

Ora, dado que ao homem Cristo fora concedido este dom gratuito de salvar todos os homens, convenientemente, pois, Lhe foi dado o nome de Jesus, ou seja, Salvador; nome que o anjo comunicou de antemão não só à Mãe, mas também a José, que haveria de ser o pai de criação” 12.

Assim se conclui a anunciação do anjo a José, com a revelação da missão de Jesus de “salvar o seu povo de seus pecados”. Podemos exclamar, com a liturgia da Igreja: “O magnum misterium!” Sobre este mistério sublime, assim revelado, comenta São Bernardo:

O Senhor achou José segundo o Seu coração e lhe confiou com inteira segurança o mais misterioso e o mais sagrado segredo de Seu coração. Ele lhe revelou as obscuridades e os segredos de Sua sabedoria, facultando-lhe conhecer o mistério desconhecido desde as origens do mundo. Aquilo que numerosos reis e profetas desejaram ver e não viram, foi concedido a ele, José, o qual não só viu, mas também compreendeu, carregou, guiou os passos, abraçou, osculou, alimentou e protegeu” 13.

Quando acordou, José fez como o anjo do Senhor havia mandado e assumiu para si a sua esposa.

É de salientar aqui a obediência de São José à voz do anjo. Essa mesma docilidade se tornará patente também quando receber a ordem de ir para o Egito, fugindo de Herodes e, mais tarde, quando o mensageiro celeste o mandar voltar, por já ter morrido o tirano. Sua submissão é paralela à de Maria, que exclamou, ao receber a inefável notícia de que seria a Mãe de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em Mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 38).

Outros episódios narrados nos evangelhos

Visitação a Santa Isabel

Os evangelhos não mencionam a presença de José na viagem de Maria a Ain-Karim, para visitar sua prima Isabel. Mas é óbvio que ele não deixaria sua jovem esposa fazer sozinha uma viagem tão longa. Era preciso percorrer mais de cem quilômetros, que requeriam cerca de três dias de penosa caminhada, por veredas tortuosas e não isentas de todo tipo de incertezas. Era preciso contar não só com os perigos da natureza, como também com a insegurança dos caminhos, tantas vezes infestados de salteadores.

Além disso, para a mentalidade e os costumes da época, era incompreensível que uma jovem andasse sozinha, e menos ainda empreendesse uma viagem desse porte sem estar acompanhada de algum familiar muito próximo ou, se já fosse casada, do próprio esposo. O fato de ter José levado consigo Maria a Belém, também confirma essa hipótese. Certamente, assim procedeu para não deixar sua esposa sozinha em casa, uma vez que a presença dEla não era necessária para o recenseamento.

Fuga para o Egito

Os evangelhos narram, após a primeira manifestação do anjo, ainda outra, ordenando a fuga para o Egito. Ali, São José deixa novamente transparecer sua inteira obediência à inspiração divina. Quantos desvelos, quantas preocupações, quantas noites exposto às inclemências do tempo, ao longo das agrestes rotas da época, exercendo sua função de esposo e custódio de Maria, de pai e zeloso guardião do Redentor! Porém, uma vez mais, o silêncio sublime do evangelho cobre os detalhes dessa provação para a Sagrada Família.

Jesus, Maria e José permaneceram no Egito “até a morte de Herodes” (Mt 2, 15). Mas o Santo Patriarca não ousou voltar para a Judéia, ao saber que lá reinava Arquelau, filho de Herodes; “avisado divinamente em sonho” (Mt 2, 22), retirou-se para a Galiléia e instalou-se com Jesus e Maria na cidade de Nazaré.

Em todas essas obrigações que, como pai, lhe competiam, José praticou de forma excelsa a virtude da fortaleza.

Com efeito, o que não significaria cuidar de Jesus e Maria, sustentá-Los e defendê-Los como Eles mereciam, nas dificuldades da vida daqueles tempos... Mais ainda, no exílio do Egito — terra estranha e pagã — quais não terão sido os obstáculos e perigos!

Perda e encontro de Jesus no Templo

A perda de Jesus no Templo nos é narrada pelo evangelho de Lucas (cf. Lc 2, 41-51). Tinha Jesus “doze anos”, quando seus pais subiram, como “todos os anos”, para Jerusalém por ocasião da Páscoa, para cumprir a Lei. No regresso, pensaram eles que seu Filho estava entre a comitiva da viagem, mas não O encontrando, voltaram a Jerusalém, à Sua procura. Três dias depois, O acharam ensinando no templo, entre os doutores.

Para Maria e José, foi uma tremenda provação cuja magnitude se entrevê no curto diálogo com Jesus e, sobretudo, no comentário final do evangelista: “Meu filho, que nos fizeste? Eis que teu pai e eu andávamos aflitos à Tua procura. Ele respondeu-Lhes: “Por que Me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-Me das coisas de meu Pai?” Eles, porém, não compreenderam o que Ele lhes dissera”. Uma vez mais, José depara com a prova da perplexidade ante os desígnios divinos, tantas vezes incompreensíveis à inteligência humana.

Jesus “desceu com Eles a Nazaré e lhes era submisso”. E ali o Menino “crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 51-52).

A paixão de São José

Sobre esses episódios, narrados tão sucintamente pelo autor sagrado, o inspirado comentário do padre Bonifacio Llamera lança uma luz: “ infância e a A vida oculta de Jesus constituem a paixão de São José” 14. Maravilhoso período da vida do Salvador, em que o mistério envolve com resplendores dourados a virtude de Jesus, Maria e José.
Também o padre Eugenio Cantera, renomado teólogo espanhol, comenta sobre o mesmo período: “Em todas as cenas da infância do Salvador advertimos não só a presença de José, mas também sua intervenção direta, sua ação imediata; ação, se quiser, oculta e silenciosa, mas eficaz e constante. Contemplemos por alguns momentos esses passos de Jesus Menino e o veremos sempre acompanhado de José” 15.

Todo esse tempo junto a Jesus e Maria significou para José um acréscimo, a cada instante, das virtudes infusas com que a Providência o tinha dotado.

 “Vir justus”, escolhido desde toda a eternidade
Mas será que podemos nos limitar a considerar tão-somente as graças de José a partir de suas castas núpcias? Não é ele, como vimos, o vir justus, escolhido desde toda a eternidade para ser o pai adotivo de Jesus?

Nesse sentido, afirma o Pe. Reginaldo Maria Garrigou-Lagrange: “Considerada sua missão totalmente divina, o Deus providente lhe concedeu todas as graças já desde a infância: piedade, virgindade, prudência, perfeita fidelidade...” 16.

Também São Jerônimo afirmava que José era chamado justo pela posse perfeita de todas as virtudes.

E o douto Pe. Juan de Maldonado, S.J., o confirma: “São José é chamado justo, não porque possuiu só a justiça, uma das quatro virtudes morais, mas porque esteve cheio de todo gênero de virtudes, como assinalou Crisóstomo” 17.

São José cooperou para constituição da ordem hipostática!

O conceituado teólogo dominicano, Pe. Bonifacio Llamera, na sua citada obra Teología de San José 18, dedica 36 páginas a demonstrar, baseado em renomados autores, como São José “coopera na constituição da ordem hipostática, de um modo verdadeiro e singular, extrínseco, moral e mediato” 19. E conclui: “São José [está] compreendido no decreto divino da Encarnação”.

A mesma opinião defende o biblista Pe. José Maria Bover, S.J., o qual, discorrendo sobre a paternidade de São José numa de suas obras, chega a afirmar:

Relativamente ao Filho de Deus, enquanto homem, era verdadeira autoridade ou poder paterno: Jesus Cristo, enquanto homem, estava sujeito a José, ao qual devia obediência. No tocante à Mãe de Deus, a paternidade de José era como o complemento conatural da divina maternidade de Maria, a cuja categoria estava elevada. No referente a Deus Pai, era uma misteriosa participação, comunicação ou extensão de sua divina paternidade.

“Em virtude dessa tríplice relação, a inefável paternidade de José entroncava-se à ordem da união hipostática. E a esta ordem suprema pertencia, conseqüentemente, a graça de José: não de ordem ministerial — como a de São João Batista ou a dos Apóstolos — mas graça de ordem e caráter hipostático, como era a graça da Mãe de Deus, se bem que num grau inferior em relação a Ela” 20.

Podemos, pois, concluir com o Pe. Garrigou-Lagrange: “A esta ordem superior pertence ‘terminative’ a missão especial de Maria, isto é, a maternidade divina e, em certo sentido, ou seja, extrínseca, moral e mediatamente, a oculta missão do bem-aventurado José” 21.

Morte de São José

Por ter falecido nos braços de Jesus e Maria, São José é o padroeiro da boa morte. Pois se julga, e com razão, que ninguém foi tão bem assistido como ele em seus últimos momentos. Quase se poderia dizer que por isso o termo de sua vida foi tão suave e consolador que dele esteve ausente qualquer sofrimento ou angústia. No entanto, não podemos esquecer que para José esta foi a suprema perplexidade de sua existência terrena. Pois, ao falecer, separava-se do convívio inefável com sua virginal esposa e com Jesus, o Filho de Deus. José partia para a Eternidade, deixando na terra o seu Céu...

A consideração do exemplo e dos preciosos dons concedidos por Deus ao pai adotivo de Jesus nos leve a confiar na poderosa intercessão daquele a quem o próprio Filho de Deus obedeceu: “E era-Lhes submisso” (Lc 2, 51).

O exemplo de São José — afirmou o Papa Bento XVI na comemoração de sua festa litúrgica — é para todos nós um forte convite a desempenhar com fidelidade, simplicidade e humildade a tarefa que a Providência nos destinou. Penso antes de tudo, nos pais e nas mães de família, e rezo para que saibam sempre apreciar a beleza de uma vida simples e laboriosa, cultivando com solicitude o relacionamento conjugal e cumprindo com entusiasmo a grande e difícil missão educativa. Aos sacerdotes, que exercem a paternidade em relação às comunidades eclesiais, São José obtenha que amem a Igreja com afeto e dedicação total, e ampare as pessoas consagradas na sua jubilosa e fiel observância dos conselhos evangélicos de pobreza, castidade e obediência. Proteja os trabalhadores de todo o mundo, para que contribuam com as suas várias profissões para o progresso de toda a humanidade, e ajude cada cristão a realizar com confiança e com amor a vontade de Deus, cooperando assim para o cumprimento da obra da salvação” 22. 

1) Mt 1-2; Lc 1-2; 3, 23; 4,22. Além disso, é mencionado como pai de Jesus em Jo 1, 45; 6, 42.
2) São JUSTINO, Dial. cum Tryph., LXXXVIII, in P.G., VI, 688.
3) Mariale, q. 51. Apud LLAMERA, Bonifacio. Teología de San José; BAC, Madrid, 1953, p. 160.
4) LEÃO XIII Encíclica Quamquam pluries, 18 agosto de 1889, n. 3.
5) G. RICCIOTTI, Vita di Gesù. n. 232. Società Grafica Romana, 3a. ed., Turim-Roma (1947).
6) SANTO ALBERTO MAGNO. Mariale, q. 22. Apud Llamera, Teología de San José. Bac Madrid, 1953, p. 462.
7) SÃO TOMÁS. Commentarium in Math. 1, 19, apud LLAMERA, B., ibidem, p. 209.
8) SÃO. BERNARDO, Homilia II Super Missus est n. 14.
9) Cf. JOÃO PAULO II, Exortação Apostólica Redemptoris Custos de 15-8-1989 nn. 4 e 12.
10) Idem, ibidem, n.12.
11) Idem, ibid. n. 3
12) SÃO TOMÁS. Suma Teológica, III, 37, Ad. 2 Resp.
13) SÃO BERNARDO. Homilia II super “Missus est” 2; 16.
14) LLAMERA, Bonifacio, ibidem, p. 166.
15) CANTERA, E. San José en el plan divino. Apud Llamera, ibidem, p. 236.
16) GARRIGOU-LAGRANGE: De Præsentia S. Ioseph. “Angelicum” abril-junho 1928, apud Llamera, ibidem,
17) In Mt. 1, 19. Apud LLAMERA, ibidem, p. 198.
18) Biblioteca de Autores Cristianos, n. 108, Madrid, 1953. Deste livro diz o Pe. Antonio Royo Marín, O.P.: “Esta obra é, de longe, a melhor que se tenha escrito sobre São José no mundo todo” (La Virgen y Dios, BAC, Madrid, p. 406).
19) Ibidem, p. 115.
20) BOVER S.I., José Maria: Vida de Nuestro Señor Jesucristo (Barcelona, 1955), in P. Francisco de P. Solà, S.J. Mt 1-2 y las relaciones que establecen entre San José y el misterio de Cristo, in e-aquinas, Revista electrónica mensual del Instituto Santo Tomás (Fundación Balmesiana), março 2006.
21) De Præsentia S. Ioseph. “Angelicum” abril-junho 1928, p. 202, apud LLAMERA, ibidem, p. 131.
22) Ângelus, 19 de março de 2006

quinta-feira, 8 de março de 2012

São José e a fecundidade da vida interior

A ignorância religiosa em que vivemos tem produzido, entre outros efeitos nocivos, o desvirtuamento inteiro do significado real de algumas determinações da Igreja, que, quando mal interpretadas, são inteiramente estéreis de frutos espirituais, e quando bem compreendidas, são férteis em graças e proveitos de toda ordem.

São José, modelo de todas as grandes virtudes

É o que se dá, por exemplo, em relação ao culto de São José que, proposto pela Igreja como modelo dos chefes de família e dos operários, é também, pelo imenso acervo de virtudes com que foi enriquecido pela graça, modelo ideal de todas as grandes virtudes católicas.

A maioria dos católicos, porém, não pensa seriamente em tomar São José como seu modelo. De um lado, a imensa santidade do pai [jurídico] de Jesus, a quem a Igreja cultua com a suprema dulia, parece um ideal absolutamente inatingível. De outro lado, a fraqueza humana de que nos sentimos repletos, solicitada por toda sorte de inclinações, nos afasta por tal forma de qualquer ideal espiritual, que julgamos muito já ter feito quando nos libertamos do jugo do pecado mortal e venial, e vivemos uma vida espiritual estacionária, relativamente suave, pois que se limita à conservação do terreno conquistado, mas inteiramente estéril para a Igreja e para a maior glória de Deus.

Em busca da perfeição espiritual

A Igreja certamente não pretende que seus filhos igualem em glória e em virtude aquele que, depois de Maria Santíssima, foi o mais elevado expoente de virtudes da humanidade.

Por outro lado, porém, ela não quer de modo algum que limitemos nossos horizontes espirituais a uma vida piedosa banal, amesquinhada pela errônea ilusão de que seria falta de humildade aspirar-se à santidade que brilhou no gênio de São Tomás, na combatividade de Santo Inácio, no recolhimento de Santa Teresa e na caridade de São Francisco.

A Igreja desmascara esta falsa humildade, apontando nela, ou um pretexto especioso da covardia espiritual, ou uma concepção orgulhosa da virtude, considerada mais como fruto do esforço humano do que da misericórdia de Deus. E, ao mesmo tempo, ela se serve do exemplo de seus grandes santos para “levantar ao alto” nossos corações, indicando-nos que a única preocupação real desta vida, o único problema verdadeiramente importante de nossa existência, é a aquisição daquela perfeição espiritual que será o único patrimônio que conservaremos, a despeito das crises financeiras, das comoções sociais e da fragilidade das coisas humanas, para, finalmente, transpormos com ele os próprios umbrais da eternidade.

É disto exemplo frisante o grande São José.

Nascido de família ilustre, arrasta, no entanto, uma existência obscura que, contrastando com o brilho de seu nome, o colocou na mais baixa camada da sociedade de seu tempo. Escasseiam-lhe os dotes naturais com que os homens se fazem grandes. Não dispõe de exércitos nem de súditos, que levem ao longe a glória de seu nome. Não dispõe do dinheiro com que galgar às altas posições. Vive humilde e desprezado, à sombra do Templo majestoso, e no próprio país em que reinara a sabedoria de Salomão.

No entanto, brilha nele a chama da caridade. Um intenso amor de Deus, uma espiritualidade e uma vida interior admiráveis fazem de sua alma objeto da complacência da Santíssima Trindade, e este homem humilde é chamado a co-participar de modo direto em acontecimentos dos quais decorreriam os mais notáveis fatos da história do mundo